top of page

AS MULHERES

O baile já ia começar e a fila de senhoras sentadas na beira do salão pro fandango na Praça da Tiduca em Cananéia é a imagem fixa quando me pergunto quando foi a que história das mulheres dentro do fandango começou a me interessar. Perceber a numerosa presença delas, muito bem arrumadas atentas aos cavalheiros para serem convidadas, ou conversando e rindo entre elas é a presença que me marcou nos primeiros bailes que participei. Um tempo depois percebi que a Patricia Martins[1]tinha sempre a iniciativa de tirá-las para dançar e conversamos sobre a importância dessa atitude. Pois os homens tanto jovens como mais velhos procuram sempre pelas mulheres mais novas para dançar e as senhoras ficam ali sentadas a espera. Até hoje essa imagem me provoca a discutir a ausência-presença das mulheres no fandango e na ciranda caiçara.

 

A presença da mulher era natural para mim dentro da minha visão que estava interessada pela imagem da dança. Realizava vídeos onde a beleza do movimento que misturava as cores e tecidos das saias, os sapatos, os passos e assim eu desconhecia a ausência delas até me colocar para buscar por suas histórias e perceber a grande invisibilidade na maioria dos trabalhos feitos nas pesquisas, livros e filmes. O que ao mesmo tempo me deixou intrigada por considerar o papel da mulher central para os bailes. E desde então procuro investigar qual é, e como funciona esse mecanismo que produz ausência e cria a invisibilidade das mulheres na história.

Com o foco colocado sobre os homens, o que temos hoje sobre o fandango e a ciranda é de certa forma uma visão parcial sobre a manifestação. Valter do Carmo Cruz ao discutir sobre a necessidade de um diálogo para a renovação do pensamento crítico aponta o  “lugar subalterno de anunciação” de populações silenciadas e esquecidas. Assim, aponto aqui o lugar da mulher dentro do baile como uma experiência esquecida por aqueles que buscaram compreender e estudar a musicalidade caiçara. O que não deixa de ser um reflexo sutil e subjetivo da estrutura do pensamento colonial. Neste sentido pretendo contribuir com a minha pesquisa para discutir esse vazio deixado.

 

Para discutir esse tema irei procurar bases no feminismo comunitário que traz conceitos que inclui a dimensão do corpo como território e como lugar de sabedoria. O que dizem os corpos dessas mulheres do baile sobre a memória e o fazer do fandango e da ciranda? Considerando o que diz a ativista boliviana Julieta Paredes que no seu livreto “Hilando Fino” com uma nova visão para a dimensão do tempo, dividindo em 2: como um tempo importante e histórico onde se figuram as ações realizadas por homens e o tempo não importante e cotidiano onde estão os afazeres das mulheres, que lhe subtraem o tempo de estar em outros espaços. E também o conceito de espaço trazido por ela, onde acima estão os mistérios, aqui é onde se vive no agora e abaixo é onde pisamos, a terra que plantamos e colhemos que pretendo cruzar com os conhecimentos das mulheres do fandango. O diálogo com o feminismo comunitário e as mulheres da ciranda e do fandango tem como objetivo trazer novas perspectivas para a função dos bailes nas comunidades caiçaras, pela visão das próprias mulheres.

[1] Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC com a tese “Pelas cordas da viola, nas curvas da rabeca: Uma etnografia dos movimentos de fazer musical caiçara”, a qual recebeu a menção honrosa pelo Prêmio Sílvio Romero/CNFCP. Além de coordenar a pesquisas e projetos culturais, em processos de INRC/Iphan (Inventário Nacional de Referências Culturais), na instrução do registro do fandango caiçara como patrimônio cultural brasileiro e em sua posterior salvaguarda.

Parceria

Marca_GDFT_Versões-de-Aplicação.png
Logo_FandangoXiba_NEGATIVO.png

Projeto de Pesquisa

logo-pos-teresa-gestao-territorios-saberes-rosa-498x161.png
logoiear-1-280x187.png
fiocruz-1-280x210.png
uff-1-280x280.png
otss-280x259.png
sap-170x170.png
icmbio-2-280x147.png
fct-240x166.png

Apoio

barra_de_logos3.png

Realização

marca Funarte positiva.png
bottom of page